As águas do Rio

Certas coisas na vida acontecem assim, de repente, não mais que de repente, como se o acaso sabotasse a vida e pronto: a luz apaga, ou acende para algumas pessoas mais compreensivas.

Uma hora talvez você esteja ali, sentado no sofá da sala, pensando o que será da sua vida no próximo dia, em outra hora as paredes tremem, em certa hora tudo cai no compasso injusto e desigual da chuva e em todas essas horas juntas a consciência desperta junto com a espada e o escudo e você para de pensar no próximo dia e começa a socorrer o hoje e o agora. E simplismente assim você não pensa mais no jogador famoso que está entrando em outro time, na briga com o familiar ou no despertador sem bateria. Seu carro não faz mais sentido, a sua roupa já sujou e agora todas as coisas do mundo, respirando ou não, precisam enxergar e ouvir o rasgar dos seus músculos brigando com a morte e a tragédia e gritando: eu quero viver!

E você vive. Pode ser que não pense assim, mas acredite, é a melhor maneira: sou forte, vivia no visível, mas este acabou, e se o invisível me deixou viver é porque a vida vai muito além de coisas e pessoas. A verdadeira vida pode ser que conheça depois de tudo, quando a chuva passar e nada mais for perdido e sim eterno.

Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra. Sl. 121:1-2

Esse texto foi escrito em memória das vítimas da tragédia das cidades serranas do Rio de Janeiro por conta da chuva. Se bem que é impossível alguém ler em meio de tanta água e tanta lágrima. O céu dessas pessoas está sem estrelas mas o dia sempre amanhece e começa outro.
Aos meus familiares que moram em Teresópolis: que Deus cuide de vocês como sempre vem cuidando.

2 comentários:

Caio Coletti disse...

Babi, que texto bem-elaborado, e verdadeiro! Você capturou bem essa sensação de estar lutando pelo agora, uma vez que o amanhã não está nem mesmo garantido. Talvez as vezes a gente precise viver assim o tempo todo, não só quando acontece alguma tragédia.

E realmente uma coisa horrível isso que aconteceu no Rio de Janeiro. Uma forma meio agourenta de começar 2011.

Beijos! Saudades!

Anônimo disse...

Oi Babi!

Espero que toda a sua família tenha saído sem arranhões dessa "surpresa" que parece transformar cidades em pântanos.

Mas acho que sofrendo eles precisam ainda mais ler. A chuva vai passar e eles vão procurar consolo. Ainda acho que, então, um poema ou um texto como o seu pode salvar uma vida. Quem sabe?

(te adicionei no facebook! Lá sou Pedro Nobre, mas ainda sou o Vinícius Cortez do Quasar e do wordpress do qual estou postando. E sim, sou uma pessoa muito confusa...)

 
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