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As lágrimas que chorei


O que está acontecendo? Será que só percebemos que a ficção pode virar realidade quando uma frase diz mais que um livro, ou melhor, quando um olhar diz mais que a boca? Será que percebi que um papel dobrado ocupa menos espaço no lixo do que se eu amassá-lo? O que estou dizendo? Eu tinha tudo para ficar em paz quando você chegou, mas será que ninguém reparou que eu quero mais é me perder nesses contrastes de movimentos e sorrisos? O que estou escrevendo? Mil palavras que podem ser tão atrativas quanto pisca-piscas que distraem as crianças e até mesmo alguns adultos com senso de humor. Será que estou escrevendo o amor?

Estou querendo a sedução de uma rosa vermelha, a simplicidade de uma margarida e o romantismo de um girassol. Quero também vinte balões coloridos só para soltá-los e ve-los subindo ao céu, e como uma namorada da natureza, deitar na grama e imaginar para onde iriam, quantas almas necessitadas eu alcançaria e na mão de que criança um deles iria estourar... Talvez na mão de uma que mora atrás das nuvens... Um Anjo? Ah... Deus gosta quando eu me alegro e acho graça.

Mas o que quero mesmo, de verdade em verdade, é ser aquele tipo de pessoa que sorri apesar de tudo e que faz de duas pequenas palavrinhas linhas para tear uma vida inteira.
O que estou fazendo? Parando de chorar dos olhos para fora, recolhendo as lágrimas e transformando-as em palavras que formam o que encontro e não o que procuro e acho. Será que todo mundo parou de pensar nas estrelas só porque o céu está nublado? Só sei que enquanto não as vejo, vou ficando como quem sonha.


Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha. Sl.126
*Não sei se já usei esse versículo, mas na verdade é que eu gosto muito!
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As águas do Rio

Certas coisas na vida acontecem assim, de repente, não mais que de repente, como se o acaso sabotasse a vida e pronto: a luz apaga, ou acende para algumas pessoas mais compreensivas.

Uma hora talvez você esteja ali, sentado no sofá da sala, pensando o que será da sua vida no próximo dia, em outra hora as paredes tremem, em certa hora tudo cai no compasso injusto e desigual da chuva e em todas essas horas juntas a consciência desperta junto com a espada e o escudo e você para de pensar no próximo dia e começa a socorrer o hoje e o agora. E simplismente assim você não pensa mais no jogador famoso que está entrando em outro time, na briga com o familiar ou no despertador sem bateria. Seu carro não faz mais sentido, a sua roupa já sujou e agora todas as coisas do mundo, respirando ou não, precisam enxergar e ouvir o rasgar dos seus músculos brigando com a morte e a tragédia e gritando: eu quero viver!

E você vive. Pode ser que não pense assim, mas acredite, é a melhor maneira: sou forte, vivia no visível, mas este acabou, e se o invisível me deixou viver é porque a vida vai muito além de coisas e pessoas. A verdadeira vida pode ser que conheça depois de tudo, quando a chuva passar e nada mais for perdido e sim eterno.

Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra. Sl. 121:1-2

Esse texto foi escrito em memória das vítimas da tragédia das cidades serranas do Rio de Janeiro por conta da chuva. Se bem que é impossível alguém ler em meio de tanta água e tanta lágrima. O céu dessas pessoas está sem estrelas mas o dia sempre amanhece e começa outro.
Aos meus familiares que moram em Teresópolis: que Deus cuide de vocês como sempre vem cuidando.
 
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